Que eu tenha fé. Essa entrega
diante do desconhecido. Essa possibilidade de soltarmos o suposto controle que
acreditamos ter. Esse sentimento de que fazemos parte de uma inteligência que
tudo toca, ama e conhece. Essa humildade para reconhecermos que na esfera da
nossa mente mais grosseira nós sabemos muito pouco, quase nada. Essa confiança
de que acontecerá realmente o que for melhor para nós, ainda que no tempo de
cada acontecimento, tantas vezes cegos pelos nossos desejos, não possamos
entender o que somente a nossa alma sabe.
Deus e a nossa alma vivem em
contínuo diálogo desde os tempos mais remotos. São confidentes um do outro.
Sabem segredos preciosos que não nos contam enquanto não nos for possível
entendê-los. Veem cada fato sob uma perspectiva pela qual muitas vezes ainda
não sabemos enxergar. Conhecem o jeito como as peças se encaixam, enquanto nos
desgastamos tentando encaixá-las de qualquer maneira, com sofreguidão, para
atender aos nossos interesses imediatos, mesmo que, restritos pela urgência dos
seus apelos, não tenhamos visão do panorama real.
A fé é um exercício pra vida
inteira. Muitas e muitas vezes, eu me distancio incrivelmente dela, achando que
posso resolver tudo sozinha. Não é raro nessas ocasiões, na verdade é bastante
comum, eu me atrapalhar toda num turbilhão de emoções que me drenam a energia e
o sorriso. Mas, toda vez que consigo acessá-la, de novo, tudo se modifica e se
amplia na minha paisagem interna.
Na fé, eu sou capaz de me dizer, com amorosa
humildade, que grande parte das vezes eu não sei o que é melhor para mim. Eu
não sei, mas Deus sabe. Eu não sei, mas minha alma sabe. Então, faço o que me
cabe e entrego, mesmo quando, por força do hábito, eu ainda dê uma piscadinha
pra Deus e lhe diga: “Tomara que as nossas vontades coincidam”. Faço o que me
cabe e confio que aquilo que acontecer, seja lá o que for, com certeza será o
melhor, mesmo que algumas vezes, de cara, eu não consiga entender.
(Trecho de Ana Jacomo)
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